COLUNISTA
RENATO CASTANHARI JR. - Ribeirão Preto
Renato Castanhari Jr. é publicitário desde 1977 quando iniciou na Almap, Alcântara Machado Propaganda, como redator.
Depois foi Diretor de Criação e Diretor do escritório da Artplan Publicidade em São Paulo. Em 1990 montou sua própria agência, a Castanhari Com. & Marketing.
Em novembro de 2011 lançou o seu primeiro romance, Deus me Acuda.
Em junho de 2015 lançou os dois primeiros volumes do seu livro de Crônicas e Contos, Ladeira da Memória.


Nascer e morrer faz parte, inevitável. Ganhar e perder faz parte, mas nos últimos anos andamos perdendo mais do que ganhamos. Tempos de celebridades efêmeras, que ganham a primeira página pelo valor do click, da curtida, que não vale curtir. Valor que se discute, fake coin, que não vale quanto pesa, mas vale quantos atingem, quantos iludem, envolvem, com algo tão descartável quanto embalagem de picolé no palito. Tempos de influencers, de rebolado que vale mais que a voz, cantando letras que não valem um pum do rebolado. Tempos em que se discute se os talentos do passado teriam a mesma performance no agora, como se o valor dos feitos fosse menor dos feitos agora.
Talvez os mais antigos estejam mal acostumados com os talentos que degustaram em tempos passados, que alimentaram seus prazeres pela arte nos mais variados palcos da vida, seja nos tablados, nas telas, nas páginas ou nos gramados. A arte performática com profundo conteúdo em sons, gestos e dribles. Outros tempos, outras exigências, outras avaliações, outra consciência.
Aí o ano finda e se transfere as expectativas de tempos melhores ao ano que vai nascer. Como se o girar dos ponteiros, que quase nem mais existem, pudesse ter a capacidade de gerar algo melhor. Uma esperança pueril que acredita que o nascer do novo dia, do novo ano, traga algo melhor do que o passado. Ai, quiseram os Deuses que antes deste ano findar, a gente se despedisse de um Rei, como se fosse melhor essa perda tão sentida ficar no embrulho deste ano passado, de tantas perdas sentidas para cada um de nós. O mundo já havia perdido uma Rainha, chegou a hora do nosso.
Pelé parte após uma Copa do Mundo. O Mundo que o elegeu Atleta do Século chora sua partida. E esse pesar mundial deixa este final de ano ainda mais pesado, ainda mais com gosto de cabo de guarda-chuva. Não importa que este final de partida já era previsto, que ele estava jogando nos acréscimos. Nosso egoísmo nato exige que aqueles que queremos bem, que nos inspiram e fascinam, permaneçam com a gente eternamente, mesmo que a gente não os veja, mesmo que nunca tenham sido apresentados a nós. Precisamos apenas saber que eles estão por aí, vivos. O nosso egoísmo não leva em conta se esses queridos permanecem com qualidade de vida para continuarem respirando. E quando eles partem, uma parte nossa vai junto. Ao mesmo tempo, eles permanecem vivos nas nossas lembranças, nas histórias que voltamos a contar para nós mesmos e para quem compartilhamos essas lembranças. É neste momento que eles saem da vida e tornam-se eternos.
Todos que nascem morrem. Apenas alguns se eternizam. No futebol, o Dico é certamente o maior deles, na primeira Copa já virou Eterno.
Vida eterna ao Rei. Feliz 2023 a todos. Tomara seja.
